Fala-se muito em viajar fora dos circuitos habituais, mas como é que chegas a sítios que, muitas vezes, só são frequentados pelos habitantes locais? Não estou a falar apenas de destinos remotos, mas também de locais nos destinos mais turísticos, como Paris, Londres ou Nova Iorque. A questão estende-se mesmo a destinos dentro do nosso próprio país. Há mais do que museus, monumentos ou os chamados “POI – pontos de interesse”: há, por exemplo, os restaurantes e cafés da moda, aquelas pequenas salas de concertos isoladas, a mercearia local. Sem esquecer os circuitos turísticos que, evidentemente, podem ser muito interessantes, mas que, por vezes, estão tão cheios de gente ou são tão “fabricados” que perdemos o sentido da cultura local.
Então, como é que podemos visitar um destino e conhecer realmente os seus costumes, a sua vida e a sua cultura? Estas são as minhas oito dicas para explorares os sítios como um verdadeiro nativo!
PESQUISA E COMPARA OFERTAS
O trabalho começa sempre em casa, e antes de partires: pesquisa o teu destino, o que te espera, para onde vais, quais são os hábitos culturais. Encontrarás cada vez mais informações sobre os principais locais a visitar em cada destino, e esta é uma excelente forma de começar a explorar uma cidade. Terás uma ideia dos locais mais populares/visitados e, provavelmente, das coisas que gostarias de ver mas que ainda não encontraste…
Se estás a planear uma viagem, pesquisa o mesmo destino em diferentes agências. O preço nem sempre dita tudo, certifica-te de que têm um itinerário completo que te dá uma experiência completa, em vez de passares o dia inteiro preso no trânsito, ou isolado do grupo e com poucas oportunidades para experiências verdadeiramente locais.
BLOGGERS
Os bloggers ou influenciadores podem dar-te algumas ideias de locais a explorar. Em primeiro lugar, podes tentar descobrir se o seu trabalho/texto foi pago, pois nesses casos o conteúdo “pode” não ser genuíno.
A vantagem é que podes identificar-te com a pessoa que escreve o artigo: há bloguistas exploradores, bloguistas urbanos, bloguistas artísticos, bloguistas chiques, bloguistas feministas, bloguistas desportivos, etc.! Como te identificas com os autores, podes acabar por te identificar também com os artigos, o que, por si só, é um bom ponto de partida. Então dá uma vista de olhos a todos estes pontos abaixo!
PERDE-O
Regra geral, as “pérolas” estão mesmo ao virar da esquina: basta saíres da rua turística ou seguires um caminho alternativo. Se tiveres tempo, conduz durante algumas horas sem mapa, segue apenas o teu instinto, o teu olhar e o teu olfato. Usa o teu sentido de orientação para ires de A a B sem um mapa. Foi muitas vezes assim que descobri grandes cafés, lojas, pequenos nichos culturais, onde inevitavelmente também acabei por conhecer pessoas incríveis que me abriram novas oportunidades. Fui a sítios inimagináveis, entrei em casa de locais para tomar chá e fazer festas privadas de karaoke, aprendi a língua e os costumes. Há coisas que os guias, os mapas e os manuais não explicam e há outras que estão em constante mudança e, quando lês o guia, já estão desactualizadas. E, claro, há pessoas que só conheces por mero acaso. Por vezes, perdemo-nos para nos encontrarmos!
COUCHSURFING
Não só te ajuda a poupar dinheiro em viagens, como é a melhor forma de conheceres as rotinas locais em primeira mão. O mesmo se aplica aos Airbnb’s e similares, com a diferença de que preparam um espaço para o turista, com o máximo de conforto possível, uma vez que este está a pagar, pelo que podem acabar por se tornar locais como um boutique hotel. Mas o couchsurfing é normalmente puro e cru. Terás o “privilégio” de remexer no frigorífico, apanhar o autocarro local, descobrir a melhor taberna do bairro e até compreender a dinâmica do bairro. O mais provável é que o teu anfitrião te dê dicas preciosas, desde aquele café que tem os bolos mais fantásticos, ao melhor mercado de legumes, e outras dicas que nunca encontrarás em nenhum guia ou blogue.
VIAGENS EM GRUPO
Se viajar sozinho não é a tua praia, junta-te a uma viagem de grupo, mas faz uma pesquisa sobre a agência e os itinerários em que te levam. Se vais em grupos de 20 ou mais pessoas, com guias locais que te recebem com uma bandeira, te dão uma pulseira para te reconhecerem nos alojamentos e restaurantes, usam t-shirts iguais ou te dão pastas com vouchers à chegada, lamento: estás no grupo errado! Junta-te a grupos que viajam em pequenos números, têm itinerários personalizados, com tempo livre para que possas também personalizar a viagem a teu gosto, e que têm um chefe de viagem experiente nos destinos, que fala a tua língua e conhece ambas as culturas.
PERGUNTA AOS VIZINHOS
É isso mesmo, pergunta aos vizinhos, a qualquer vizinho! O vizinho do quarto, o vizinho da casa, o vizinho da loja, o vizinho do café. Imagina que queres ver o pôr do sol: pergunta a todas as pessoas com quem interages hoje qual é o melhor pôr do sol da cidade. É provável que recebas várias respostas, mas podes sempre analisar e ver qual delas se adequa melhor ao teu gosto. Por vezes, também podes pedir indicações, como se estivesses perdido. O hábito de perguntar por aí está cada vez mais perdido com a facilidade e a quantidade de informação a que temos acesso online, mas a velha forma de comunicar continua a ser a maneira mais eficaz de descobrir os segredos locais.
AUTOCARROS LOCAIS
Tenta encontrar percursos em autocarros locais em vez de táxis ou condutores privados. Para além de ser um gesto mais amigo do ambiente, podes ver o que está no percurso, aprender os nomes das paragens e ver quais as zonas mais movimentadas do que outras. Se tiveres sorte, perguntarás a alguém no autocarro sobre um café ou restaurante próximo e, se tiveres muita sorte, alguém te guiará até esse lugar especial. Para além disso, pouparás cerca de 90% do preço da viagem em comparação com um táxi!
GASTRONOMIA
A desculpa perfeita para conheceres um lugar é através dos seus paladares! Não vás a restaurantes cheios de turistas, procura antes restaurantes cheios de habitantes locais. Afasta-te da comida que tens em casa e aprecia os sabores locais. Procura os mercados e os cafés, guia-te pelo cheiro, pergunta ao teu alojamento, ao teu motorista.
Ao contrário do que te podem dizer na Consulta do Viajante, experimenta e abusa da comida de rua – presta atenção à sua preparação, mas não sejas exagerado. É normalmente nestes pequenos carrinhos de rua que encontrarás os sabores mais autênticos! Liberta o Anthony Bourdain que há em ti e deixa-te levar pelos sabores tradicionais de cada cultura. Como ele próprio disse: “Se sou defensor de alguma coisa, é da mudança. O mais longe que puderes, o mais que puderes. Atravessa um oceano, ou simplesmente um rio. Podes até andar na pele de outra pessoa ou, pelo menos, comer a sua comida: é uma situação em que todos ganham!“